"sabes, estou farta..."
e foi assim que começou a nossa conversa.
ela dizia-me que a vida dela estava virada do avesso, que já nada tinha solução, o casamento já era só fachada e que já nem o trabalho a animava.
Contou-me que tinha saudades dos velhos tempos de escola, quando a maior chatice era ter teste e ter que estudar, e que queria voltar a essa altura da vida, em que não haviam maiores consumições como até quando haveria trabalho, quando teria dinheiro para pagar as contas, e outras coisas mais que agora ocupavam a sua cabeça sem deixar tempo para pensar nela própria.
"alguma coisa tem que mudar, algo é preciso mudar!"
repetia e ia repetindo, como se isso fosse mudar alguma coisa, como se o facto de o dizer em voz alta pudesse mudar algo.
e eu continuava ali, sentada no sofá, aconchegada em 3 almofadas que iam sendo o meu apoio no meio daquela conversa toda,
enquanto tomava um chá de camomila na parva esperança que no fim daquela conversa toda a minha própria vida tivesse dado uma volta de 360º sem que eu mesma me apercebesse....
"...estou farta... estou farta que todos esperem algo de mim,..." e eu farta, farta que todos esperem que eu esteja sempre pronta para os outros, com tempo livre, com carinho e atenção quando precisam, no momento que querem, pois sim, a minha vida deveria ser unicamente para esse propósito, pois o meu tempo livre deveria ser passado a atender as questões psicológicas dos outros pois a minhas tinham tempo, poderiam esperar....
pois bem....
muito calmamente pousei sob a mesinha pequena que estava frente a meus pés a pequena e frágil chávena de chá, arrumei as almofadas no sítios que estavam quando cheguei e apenas disse:
- Sabes... também estou farta... e vou tirar um tempo só para mim!.... e sai da sala e fui embora...
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